sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sinais


Ah, Você...

Era dia. E seria tão simples se não fosse por um motivo: os sinais. Sim, sinais sibilantes sinalizando a sina: você. Será assim: você, eu, nós? Sem explicação... Não te explico, não me explica e assim vamos sendo. Sou eu quando vejo seu sorriso, quando sinto seu olhar, quando me deixo abalar pelo seu toque. E seria real se não fosse tão sensível. Vivemos na sensibilidade. O olhar. A sutileza do abraço. A angústia do talvez. A alegria da espera. A solidão da despedida. A esperança no amanhã. Esperaria sem medo seu momento. Mas demoraria a crer no meu. Medo-me. Mesmo pra neologizar. Em se tratando de você, as palavras existentes são poucas, inúteis, vagas. E você... Você é muito. Muito quando seus olhos me aprisionam. Muito quando meu ego reluta com o seu. Muito quando me distraio com os seus pensamentos. Muito quando me sinto flutuar por sua desesperança. Você desespera e espera na esperança, eu sei. Eu sinto. E, sabe... É um dos sinais. É um sinal estar onde deveria, sem esperar seu desespero. E estar ali. Diante dos seus talvez. É um sinal ousar neologizar sem recear. Sinal maior é a desmemoriação. Foi. Fui. Fomos. Desfomos. Hoje somos. Sem espera. Você e eu. Inquietantes suspiros. Desordenados pensamentos. Vigilantes quereres. Saudoso beijo. Sabe, eu sei. Sinal. Você é minha sina. Meu medo personificado. Minha razão abstrata. Meu sentir ensandecido. Seu querer dissoluto. Só sei que agora sei... Você. Sina. Só.

sábado, 4 de setembro de 2010

Nunca me senti tão mulher!

Uma crônica pra satisfazer as necessidades não-semióticas...


Era um dia. Uma tarde. Um tédio. E eu poderia esperar uma mudança repentina, dessas que vem e vão como vieram. Basta-me, no entanto, no momento, saber que sou única e mulher, dessas bem femininas, com recortes e colagens. Dessas que sonham grande e realizam de pequeno. Pensando, ansiando pelo que virá depois. O tempo recua à minha passagem. Pois nem toda forma de envelhecimento me entristece. Posso ser tranqüila e pensar que o dia vai seguir e subtrair do que já foi, quem sabe somar ao que está sendo. Só sei que o sol vai alto e minha cabeça, ainda mais. Vi um passarinho, tão bonitinho, cantando no embalo do vento, esperando pela água que se acumula e logo, logo pode soar derradeira. Sou eu. Mulher. Invencível. Dessas que saem de casa aspirando vontade e expirando desejo. Já, já ele vai entrar e toda minha idéia de ser maior do que acredito ser se corrompe. Misturo as falas, sinto a falha no pensar e me esquivo de olhar. Ele passa por mim, como um menino que acaba de descobrir que o sol é o centro da galáxia. Fico submissa, e respondo de forma equivocada e doce. Ele sorri. Abre covinhas e nunca me senti tão mulher e feminina, dessas que deságuam ante o mais fino olhar. Era o dia. A tarde. Sem tédio. E eu não me esqueci da mudança brusca, que veio e foi. Foi com o piscar, com o livro aberto e a página virada. A palavra consultada e mesclada com o ar agora fresco. Admiro o vagar da lembrança e ele repousa ouvindo aquele passarinho, mas não sozinho, não junto ao lado, mas na querela do pensar. E eu nunca me senti tão boba e mulher, dessas que vêem além do que está e acredita no viés da possibilidade. Juro que o possível era pra ser mais bonito. E o impossível inundou a face e a retina se compadeceu. Vista tão sentimental não há de se ter tão breve, nem o bater errado e direito. Foi pouco. Foi breve. Foi imenso. Foi intenso. Julguei o instinto do sentir. Imóvel, os olhos viram. Ele. Ao lado. Imóvel, permaneci. Móvel, ele foi. Longo instante de penas e dúvidas. Revirei a dignidade e só encontrei o orgulho, misto de medo e querer. Assim, menina, mulher. Dessas que fazem uma fagocitose do sentimento. Deságua, eu junto. Ele, lá. Cá, fico a surrupiar a vontade. Inspiro. Estico o braço e encontro minha realidade. Nunca me senti tão poderosa e mulher. Dessas independentes que sujam as palmas na beleza do conhecimento e reviram o ser na queda do esperar.