sábado, 27 de novembro de 2010

Ele...

Era uma tarde ensolarada. Perfeita pra uma caminhada ao redor do lago, sozinha, a pensar na vida. Ou melhor, não pensar em nada. Simplesmente sentir. Provar de um contato com a natureza: o vento, a grama, a água, o sol. Os quatro elementos se fundindo enquanto relaxaria ouvindo o som dos pássaros e admirando quem por ela passasse.

Mas foi num pulo que parou de sonhar. O projeto da caminhada relaxante teria de esperar. Afinal, o trabalho se acumulou e se não desse conta do que ficara, viraria um bolo de coisas a fazer e que nem poderia comê-lo pra dar fim... Espreguiçou-se e sentou-se diante de sua escrivaninha: por onde começar?

Resolveu, então, mudar um pouco o ambiente pra tentar facilitar o trabalho. Acendeu um incenso de camomila, ligou o som e pôs o cd “Músicas para relaxar” e colocou uma xícara de café sobre a mesa. “Melhor não”, pensou. “Dizem que café dá mais ansiedade”. Substituiu o café por um chá de frutas secas que prometia tranqüilidade. Não era tão bom quanto a sensação da cafeína, mas tentaria enganar o corpo.

Pegou a primeira pilha de papéis: provas bimestrais da quinta série. Bocejou ao pensar que essa a primeira de dez pilhas de provas a corrigir durante essa noite. Não dormiria tão cedo (se dormisse, claro!). Na terceira prova, o chá já havia acabado. Ansiosa, remexeu-se e decidiu por abrir aquele vinho que esperava a vinda da irmã no feriado. “Compro outro depois.” Sacou a rolha e encheu a taça: “acho que vou corrigir mais feliz.”

Por volta da décima quinta prova, o cd travou. “Droga de rádio.” Como já estava quase na metade da taça (já???), mudou de ritmo: Raul. Calma... Raul pra corrigir provas? É. Raul. Sorriu e se deixou suspirar. Mas, Raul pra corrigir provas? É, as provas foram perdendo o sentido. Seus pensamentos divagavam. Numa relação de alteridade, deixou de ser a si mesma pra ser além do que sentia. Suspirou mais uma vez.

Olhou ao redor e viu a solidão, chamando-a pelo nome. Há tanto tempo eram companheiras! Sorriam uma pra outra e se acalentavam num misto de prazer e dúvida. Era feliz, pois não? Um arrepio percorreu-lhe e não soube identificar sua precisão. Era feliz? Era... Feliz!?

Lembrou-se da época da faculdade: uma menina cheia de sonhos e utopias. A realidade mostrou-se fria e dissimulada. Notou que precisava de um encontro: um encontro consigo mesma. E passou dias sem falar com alguém. Quando voltou à falsa sensação de liberdade, conheceu aquele que alimentaria seus devaneios. Um amor intenso que a fez perder o prumo. Abandonou-se inteiramente às sensações conflituosas que a massacravam. Chorou, sorriu, viveu. E com a mesa intensidade com que veio, foi.

Decidira-se por amar a si mesma, a começar por seu trabalho. Dedicou-se aos estudos integralmente. Forjou sua metodologia, fundiu sua alma à Educação e tinha a certeza: melhor não poderia acontecer. Em pouco tempo, tornou-se a professora mais bem quista da região e trabalhava na melhor escola da cidade. Foi morar sozinha, na ânsia de se realizar. Pós graduou-se. Seus alunos lhe inspiravam felicidade. Não havia necessidade de nada mais. A não ser... Era feliz?

Durante alguns anos, acomodara-se na situação de não se envolver sentimentalmente. Havia sido essa decisão que lhe mostrara o quanto lhe dava prazer o magistério. Com breves romances, ninguém lhe parecia suficiente. Exigia-se de si mesma e do outro. Flores, jantares, cinema, presentes. Queria mais. Um mais que não estava ali. Um mais que esperava sentir, tocar, viver.

Um dia, um de seus romances lhe disse que ficaria sozinha, pois não tinha a capacidade de evoluir sentimentalmente. Agora, essas palavras faziam sentido. Faziam jus à personalidade intrinsecamente enjaulada. Pensara que se o outro não era suficiente, é porque ela não estava sendo complacente. O que significava que insuficiente era ela. A cada tremor que sentia diante de um abraço, acreditava ter de se afastar, pois mais tremores viriam, vontades, anseios e medos.

Veio-lhe, então, a imagem dele. Conhecera-o há duas semanas num bar em que fora com as amigas. Sorriso amigável. Olhos brilhantes e muita pretensão. Enquanto conversavam, ele a tocava levemente no braço e lhe sorria. Sentiu o tremor. Sentiu-se incapaz de causar atração num homem como ele: independente, inteligente, lindo e carinhoso. Foi como se seu veneno percorresse seu próprio corpo. Disseram-lhe, uma vez, que isso aconteceria. Talvez aquele fosse o momento.

Sentiu-se insegura. E foi embora. E ele nem tentou impedi-la.

Voltou à normalidade da sua rotina. Uma semana depois, encontrou-o na saída do supermercado. Cumprimentou-a com o mesmo sorriso de quando se conheceram. O tremor, mais uma vez. Desconsertada, disse que estava com pressa e precisava ir à escola. Ele lhe desejou um bom trabalho.

Como ousava não sair de seus pensamentos? Sempre conseguira manter-se fiel à sua escolha. Mas, naquele instante, sua doce amiga solidão lhe olhava com acusação. O Raul já parecia distante. Irritada, levantou-se, tomou um banho morno e se arrumou. Nada lhe ficava bem. “Gorda”, resmungava. Até que optou por um vestido antigo, mas que adorava e a fazia sentir-se bem. Pegou a bolsa, as chaves do carro e saiu. Ao chegar na garagem, respirou fundo e decidiu que iria caminhando. As provas que esperassem. Estava começando a anoitecer.

Iria à faculdade buscar Clarice. Nada como uma leitura existencialista pra lhe colocar de volta no lugar. Na biblioteca, cruzou com ele. Estática, sorriu amarelo e disse: “oi”. Ele olhou em seus olhos e respondeu: “que surpresa te encontrar. O que veio buscar?”  Com receio de demonstrar seu momento inseguro, com altivez, afirmou: “Clarice.”

“E qual o seu livro preferido dela?” Conversaram durante um tempo, até que lhe avisaram que a biblioteca iria fechar. “Nem vi a hora passar. Está tarde e estou a pé. Preciso ir”, disse ela. “Posso te acompanhar?” Relutante, aceitou.

Não era a caminhada que gostaria de fazer ao redor do lago para relaxar, mas foi o início da longa caminhada que se sucedeu com ele.

Ele que lhe contou sobre sua profissão, sobre seus sonhos e projetos. Sobre sua paixão por leitura e Tarantino. Por Zeca Baleiro e Tanghetto. Ele que se confessou encantado com seu sorriso e seu jeito de falar. Ele que lhe causa tremor a cada olhar, a cada forma de incentivá-la a ser melhor, a cada sorriso e a cada jeito de lhe falar o quanto é teimosa.

A teimosia que lhe trouxe ele. Ele que lhe devolveu o idealismo. Ele que a forçou a libertar seus sentimentos. Ele...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mais uma primavera musicalmente comemorada!


Hoje eu completo mais uma primavera na grande estação que é a vida, em que posso encontrar uma ambigüidade: estação como divisão do ano ou como ponto de passagem. Em ambos os sentidos, viver se justifica: pode ser um grande movimento, no qual o tempo é determinado e seu clima previsível, ou, ainda, a espera de um novo sentido. Ter mais um ano de vida, cronologicamente, não quer dizer muita coisa, em termos de vivência, ou seja, a idade é considerado um fator importante diante de certas situações, mas um número não representa, efetivamente, a realidade. Como Exupéry muito bem enfatizou no seu O Pequeno Príncipe, “a linguagem é uma fonte de mal entendidos.” Por isso acredito que o tempo cronológico não significa mais do que uma convenção social. Muitas pessoas não acreditam na idade que tenho. As justificativas são muitas: já professora de faculdade? Com tanta história e só isso? Mas, já é formada? E por aí vai... Que o ser humano é rotulado constantemente, não é novidade. Mas o que prende o homem a uma falsa sensação de liberdade é não observar além do visível. Os estereótipos são marcas daqueles que não enxergam o ser humano como além de um número. O homem é resultado do seu processo social, sim, mas acreditar nas verdades apregoadas pelos discursos ideológicos é negar a própria condição de ser racional. Por que ver somente o que está à vista dos olhos? Sou tão apaixonada pela vida que acho incrivelmente motivador observar como cada pessoa é peculiar.

Enfim, tudo isso pra falar sobre o dia de hoje: meu aniversário. Na verdade, não há muito o que dizer... Como já disse, cronologia não diz muito pra mim.

Mas existe algo muito interessante também comemorado hoje: o dia da música!

A palavra música vem do grego mousikê e significa a arte das musas, incluindo, também, nessa nomenclatura, a dança e a poesia. Tudo isso tem em comum o ritmo. Não se pode precisar, com certeza, o surgimento da música, pois esta não era gravada, como os desenhos nas paredes de cavernas, por exemplo. Não se sabe, ainda, a partir de quando o homem passou a criar instrumentos para deles tirar sons. Indiferentemente, é fato reconhecer a capacidade intelectual humana. Matematicamente composta, a música (e aqui me refiro à música erudita) não é só lazer. Sabe-se que a música (alguns ritmos) tem propriedades calmantes, outras, eletrizantes e, claro, apaixonantes! Um estudo realizado pelo Dr. Pedrag Mitrovic, por sete anos, mostra que ouvir 12 minutos por dia de músicas animadas diminui a ansiedade e o estresse, reduzindo riscos de infarto. É ou não é um bom motivo pra gostar ainda mais de músicas boas?

Bom, eu já tinha um ótimo motivo pra comemorar o 22 de novembro! Agora tenho dois (já que sou apaixonada por música). Inclusive, vou “ressuscitar” meu teclado que está guardado há alguns anos e continuar tentando tocar, em piano, a Ave Maria de Bach!

E já vou ligar um sonzinho pra ir trabalhar mais calminha... rsrsrs



                                   Fui comemorar com alguns amigos, no sábado, jogando sinuca.
                                 E ganhei um bolinho lindo. A primeira colherada no bolinho... hehe     

sábado, 13 de novembro de 2010

Ser professor é mais do que lecionar...


Essa semana, um aluno de, aproximadamente, cinquenta e dois anos, perguntou-me se eu achava que valia a pena ele tentar terminar os estudos depois de tantos anos fora da escola. Eu rebati a pergunta: “o que o senhor acha?” Seus olhos marejaram e, singelamente, respondeu-me: “estou cansado. Não acho que vou conseguir”. Por um instante, observei suas feições: traços que denotam muita experiência, muita coisa vivida, muito sofrimento. Suas mãos calejadas com unhas sujas de graxa me mostraram que seu trabalho era árduo (assim como o de todos da indústria que ali estavam em busca do diploma de Ensino Médio). Respondi: “o senhor trabalha aqui há tantos anos e mesmo cansado continua lutando. Tenho certeza de que o senhor já passou por muitas dificuldades e conseguiu superá-las. Por que agora seria diferente?” Ele me olhou, ficou pensativo e retornou: “você sempre deve ter estudado e talvez não entenda o que é ficar tanto sem estudar.” Essa afirmação me doeu. “O senhor tem razão. Mas eu sou professora porque quero ajudar quem está desanimado com os estudos, como o senhor. E se eu não conseguir fazer isso, então vou deixar de dar aula.” O homem pareceu assustado. Continuei: “Realmente sempre estudei, mas meu pai não. Ele tem a idade do senhor e nem terminou o primário. Para o senhor, só falta o Ensino Médio. E meus pais sempre fizeram de tudo para que eu estudasse e me disseram uma coisa que faço meu objetivo de vida: ninguém pode tirar da gente o conhecimento. Podem tirar o dinheiro, os bens, até o nome, mas não o conhecimento.” Senti-me um pouco envergonhada, pensando ter sido rude com o senhor. Mas eis que ele sorri e concorda comigo, afirmando que eu tinha razão.

A questão aqui é: escolhi essa profissão por ainda acreditar numa possível mudança através da Educação, não do ensino mecanizado. Minhas turmas de EJA trabalham com serviço braçal, numa indústria metalúrgica. Vou até a empresa dar aula quase todos os dias. Percebo as dificuldades de quem teve de parar os estudos por diversos motivos. Ali, vejo sonhos, esperanças e medo. Cada história de vida me comove e se torna um aprendizado. Nunca me senti tão humana quanto tenho sentido, agora. Meu pai sempre me disse que ouvir sobre as histórias das pessoas é a melhor metodologia de aprendizado. Acho que ele tem razão. Parei pra pensar o quanto as diferenças sociais influenciam nos comportamentos humanos (eu já sabia disso, mas ver, na prática, é bem diferente). Na minha experiência em sala, lidei com todos os tipos de público, mas os três últimos tem sido meus mestres. Ano passado, dava aula no CAIC e trabalhei com crianças que mal podiam sair de casa juradas de morte por traficantes. Peguei piolho na primeira semana de aula. Desmaiei em sala ao ver um aluno se mutilando com estilete. Chorei ao ouvir uma aluna de dez anos contar que se prostituía e ao ver um aluno roubar salgadinhos pra poder comer no fim de semana, em casa. Esse ano, a experiência com jovens e adultos trabalhadores está sendo tão gratificante quanto o trabalho com as crianças. Observar os rostos cheios de expectativas me motiva a continuar nessa empreitada e acreditar que, do meu jeito, eu posso mudar o mundo.

A psicologia contemporânea acredita no pressuposto de que cada ser humano é um universo. Nada mais explicável. Cada pessoa é uma caixinha de lições de vida e eu espero sempre poder aprender com suas experiências.

domingo, 7 de novembro de 2010

Contrato impertinentemente silencioso

Ousaria perder o bom senso por você. Fugir da realidade que assombra e das regras que cerram o ser humano. Eu te olharia por horas. Eu te ouviria e calaria. Saberia que seu sorriso é doce quando se formam covinhas. Pediria por seu toque mais vezes e transformaria meus dias pra poder ser com você.

Pensamentos avassalam. Escravizam. Retém a alma. Sem calma. Sem hora. Vivem do espanto, do riso, do talvez. O talvez se sentido. Ou com sentido de assombro. Olhei em seus olhos e me perdi de mim. Confusão. Sorri tentando parecer eu mesma. Mas já não era. Já havia me desfeito de mim. Apostei na indiferença. Fracasso. Me vi na simpatia. Sem sucesso. Não obstante, ri da condição e toquei sua mão. Você, tão duvidosamente, retribui. E num gesto mudo, o contrato: mesmo em inconstância, ali surgiu a desordem.

Você. Que descansa nas horas do meu dia.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Feliz dia, Mestres!

Não quero ficar caindo no comum, até porque já fiz um post sobre minha paixào por ser professora. Mas também não posso deixar passar a data de hoje! Para isso, fiz um textículo reflexivo sobre o professor contemporâneo.

Sabemos que hoje não é fácil ser professor. Precisamos pensar e repensar pra dizer um Bom dia, sem sermos interpretados de forma errônea e sermos acusados de preconceito, racismo e o que mais existir. Nunca os cursos de licenciatura foram tão voltados à metodologia de ensino quanto agora. As discussões acerca da formação de professores rendem dissertações e teses sem conta, anualmente. O que está acontecendo com a educação? A culpa é de quem? Prefiro não pensar num culpado, mas nas possibilidades de solução. Hoje, a maioria dos alunos tem problemas familiares. Isso, de uma forma ou outra, repercute em sala de aula. É senso comum afirmar que a escola assumiu o papel da família na educação dos alunos. Isso não deixa de ser verdade, e nem de ser mentira. O custo de vida está alto. Se pai e mãe não trabalharem, o sustento fica cada vez mais complicado. E quem cuida das crianças? Em que momento elas podem estar com os pais? E não podemos nos esquecer, é claro, daquelas que não tem pais (nenhum ou separados). De fato, a escola assumiu uma parte da responsabilidade. Mas, e o professor? O que proponho é que se faça uma reflexão acerca do papel do professor na escola contemporânea. Este está sempre cansado, não tem tempo... Culpa da remuneração? Da crise educacional? Dos alunos? Das famílias dos alunos? Das políticas públicas educacionais? Das gestões? Como disse, o problema existe. Creio que, o primeiro passo, é o professor pensar que sua profissão é mágica, independente de como a educação esteja. Acho que tudo que é feito com amor tem chances redobradas de surtir em resultados melhores.

Um feliz dia dos professores aos colegas que amam ou não sua profissão. Feliz dia dos professores independente das dificuldades que encontramos diariamente. Vamos fazer a nossa parte no sonho de transformação educacional! Utopia? Talvez... Mas é ela que me move na minha escolha.

E um feliz dia dos professores, especial, a todos os mestres que passaram pela minha vida e que contribuíram para a realização do meu sonho!


E como a temática do blog é a paixão, achei interessante o texto criado pelo professor Gabriel Perissé (atual colunista da Revista Língua)... O vídeo é narrado por ele, mas não criado por ele.


Mais um vez, feliz dia, Mestres! 

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ah, doce infância...

Saudações... E o feriado já está acabando!

E pra terminar bem
, nada como recordações da infância...

Sabemos que a tecnologia é muito útil (ou não) e que perdemos muito tempo com MSN, Facebook, Orkut, Blogs... rs Hoje, até mesmo crianças de 3 aninhos já sabem ligar o PC, usar o Paint, abrir fotos e o que mais a curiosidade e os pais as levarem a fazer uso. A ordem do século que começou é: tecnologia. Mas eu (te) pergunto: e as brincadeiras de rua? E as leituras prazerosas de livros? Certo é que temos de acompanhar as novidade pra não ficarmos pra trás, mas nada me demove da ideia de que infância saudável foi a de, no mínimo, uns dez, doze anos atrás. Nào vejo mais crianças cairem e se estatelarem. Vejo apenas o computador, o vídeo game e o shopping como lazer. Seria isso um mal da sociedade capitalista ou uma evolução? Enfim... Nada me impede de ser nostálgica e relembrar aquilo que fez parte da melhor época da vida. E como não sou egoísta, vamos compartilhar lembranças?


Infância 80 e 90

Ser criança é bom demais!

Preocupações? Só a de ter nosso pirocóptero, acordar a tempo de assistir à Vovó Mafalda, montar o quebra-cabeça e nào contar pros pais a nova "arte".

Gostaria de lembrar, em especial, por tantas crianças que não cresceram num lar, ou que não brincaram na rua (desse jeito), ou que não conheceram os programas infantis e desenhos animados que tanto nos divertiram. Que possamos reconhecer que a injustiça existe e que, mesmo a passo de formiguinhas, podemos fazer a nossa parte!
 





sábado, 9 de outubro de 2010

Extremo

Se fosse simples, não seria. Simples. Sem muitas adjetivações, que é pra não argumentar a favor do extremo. A simplicidade, claro, já é uma circunstância. Circunstância que me faz querer ser apenas um motivo: um motivo pra ser, pra estar, pra sentir. E basta apenas um: viver. Independente das circunstâncias, das adjetivações ou verbos que se impunham. Ser é tudo. Viver é imprescindível. Sem medo, desespero. Com luxúria e êxtase na alma. Breve é a contradição. Dizem que simplicidade e luxúria não são afeitas a si mesmas. Contudo, o contrário é grandioso. A luxúria é sentida na alma. Alma sobre alma. A simplicidade, no corpo. Juntas, encontram o caminho para sua fusão. E viver na extremidade. Simples e luxuriamente. Que já são extremos a se completar. Viver, sentir, ser, estar... Extremo!


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tom Zé no DemoSul

Tom Zé no DemoSul. Não conhece? Vou te apresentar...

Com quase 74 anos (a serem completados no dia 11/10), Tom Zé é um gênio da música brasileira. Foi ícone da Tropicália, mas não satisfeito com o "comum" reiventou ritmos, criou letras e surpreende com seus conhecimentos teóricos e práticos. Pouco convencional, o artista faz música experimental, é jardineiro, escritor e professor (o que mais me apetece, claro!). Pra muitos, ele só fala coisas esquisitas, se veste de uma forma engraçada e é um tropicalista fracassado. No entanto, Tom Zé é muito mais que isso. Com um currículo de fazer inveja a muitos músicos (principalmente no exterior - mania de brasileiro valorizar mair o exterior), o compositor conhece harmonia como ninguém. Quem é músico (ou gosta de teoria musical), sabe da importância de se compor em tempos e compassos perfeitos a fim de se obter a harmonia. Tom Zé parece um matemático da música (já que música é matemática, de certa forma). Com 18 discos, enuncia uma nova forma de enxergar a sociedade, a industrialização, as tecnologias, a ciências e as ideologias vigentes. Seu mais recente trabalho é o álbum O Pirulito da Ciência, uma compilação de várias canções produzidas ao longo dos 42 anos de carreira. Para mim, os álbuns que mais chamam a atenção (e isso, eu agradeço à minha amiga Priscila) é a trilogia "Estudando": Estudando o Samba, Estudando a Bossa e Estudando o Pagode. Pra quem não conhece, fica a dica. Irreverência com um misto de non sense, pra quem está cansado do senso comum.
E pra quem ouvir e gostar, uma ótima novidade: em 22/10/10, Tom Zé estará no Palco DemoSul, no Festival que acontecerá em Londrina entre os dias 17 e 23/10/10. Fica aqui o convite para o inusitado. O inusitado com inteligência, solicitude, criatividade e humildade mais extasiante que conheci. Quer conhecer mais sobre o Tom? Acesse... http://www.tomze.com.br/prot/index.html


Tom Zé - Dor e dor  - Uma prévia do trabalho do compositor.
Atoladinha - Metarefrão microtonal e plurissemiótico. Tom Zé no Jô. - A genialidade do jardineiro.

sábado, 2 de outubro de 2010

Paixão fatal

Esses dias estava em casa, ouvindo o samba operado de Chico Buarque, quando senti desejo. Não foi desses esquisitos de mulher grávida, que quer comer pizza de escarola às três da madrugada ou sorvete de manga com amora no frio congelante. Mas foi um desejo feminino. E tão feminino que, como mulher, admito: é a salvação dos problemas masculinos. Falo em problemas, pois, como bem se sabe, mulher não é lá muito flor que se cheire. Insistimos que não temos TPM. Mas, quando estamos nervosas, naquela semana que nos enlouquece, culpamos a bendita. É ou não é pra qualquer um ficar confuso? Tem homem que nem se aproxima da gente nesse período. Realmente, essa é a indicação. Afinal, nos surtos de “ninguém me ama, estou feia, estou gorda”, nossa vontade é esgoelar o namora(i)do. E quando queremos brigar por causa do atraso de dez minutos? Ou sentimos vontade de jogar pratos, copos e vasos pelos ares porque ele olhou pro lado na rua, bem na hora que passava aquela loira magérrima? Ou ainda quando queremos arrancar os cabelos e gritar ensandecidamente porque aquelazinha ficou dando em cima dele na festa? O que é que o homem deve fazer? Além de pensar que somos loucas e deveríamos estar num hospício, alguns saem de perto. Outros batem boca e tentam ganhar a “batalha” no grito. Outros, ainda, fingem que estão ouvindo a ladainha de sempre, enquanto pensam no jogo de amanhã, no relatório de ontem, na Ferrari que viu na rua hoje...  Ah, nem Paulinho da Viola acalenta nosso coração insano. Mas tem uma solução. Claro que tem... Flores? Ah, são bonitas, mas não vão resolver muito (vamos pensar que estão querendo algo). Um abraço e um beijo? Pode ter um complemento né... Roupas, sapatos, jóias? Não, meu bem... A solução é muito mais simples. Vamos ficar calminhas (no momento, claro!). É bem mais barato que presentes caros... É algo viciante, que libera endorfina no nosso corpo e nos traz um prazer indescritível: Suflair, Ferrero Rocher, Laka, Alpino, Cacau Show, Kopenhaguen, Maria Brigadeiro... Ai ai... É a calmaria, certeza. Mas, cuidado: entre calmarias, surge a tempestade: “já estou me sentindo gorda. Por que me deu chocolate? A culpa é toda sua...” É, vou voltar pro Chico. E comer meu Sonho de Valsa.

                                                                              É fatal....

http://www.youtube.com/watch?v=NOPVR0CawGQ&feature=player_embedded

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sinais


Ah, Você...

Era dia. E seria tão simples se não fosse por um motivo: os sinais. Sim, sinais sibilantes sinalizando a sina: você. Será assim: você, eu, nós? Sem explicação... Não te explico, não me explica e assim vamos sendo. Sou eu quando vejo seu sorriso, quando sinto seu olhar, quando me deixo abalar pelo seu toque. E seria real se não fosse tão sensível. Vivemos na sensibilidade. O olhar. A sutileza do abraço. A angústia do talvez. A alegria da espera. A solidão da despedida. A esperança no amanhã. Esperaria sem medo seu momento. Mas demoraria a crer no meu. Medo-me. Mesmo pra neologizar. Em se tratando de você, as palavras existentes são poucas, inúteis, vagas. E você... Você é muito. Muito quando seus olhos me aprisionam. Muito quando meu ego reluta com o seu. Muito quando me distraio com os seus pensamentos. Muito quando me sinto flutuar por sua desesperança. Você desespera e espera na esperança, eu sei. Eu sinto. E, sabe... É um dos sinais. É um sinal estar onde deveria, sem esperar seu desespero. E estar ali. Diante dos seus talvez. É um sinal ousar neologizar sem recear. Sinal maior é a desmemoriação. Foi. Fui. Fomos. Desfomos. Hoje somos. Sem espera. Você e eu. Inquietantes suspiros. Desordenados pensamentos. Vigilantes quereres. Saudoso beijo. Sabe, eu sei. Sinal. Você é minha sina. Meu medo personificado. Minha razão abstrata. Meu sentir ensandecido. Seu querer dissoluto. Só sei que agora sei... Você. Sina. Só.

sábado, 4 de setembro de 2010

Nunca me senti tão mulher!

Uma crônica pra satisfazer as necessidades não-semióticas...


Era um dia. Uma tarde. Um tédio. E eu poderia esperar uma mudança repentina, dessas que vem e vão como vieram. Basta-me, no entanto, no momento, saber que sou única e mulher, dessas bem femininas, com recortes e colagens. Dessas que sonham grande e realizam de pequeno. Pensando, ansiando pelo que virá depois. O tempo recua à minha passagem. Pois nem toda forma de envelhecimento me entristece. Posso ser tranqüila e pensar que o dia vai seguir e subtrair do que já foi, quem sabe somar ao que está sendo. Só sei que o sol vai alto e minha cabeça, ainda mais. Vi um passarinho, tão bonitinho, cantando no embalo do vento, esperando pela água que se acumula e logo, logo pode soar derradeira. Sou eu. Mulher. Invencível. Dessas que saem de casa aspirando vontade e expirando desejo. Já, já ele vai entrar e toda minha idéia de ser maior do que acredito ser se corrompe. Misturo as falas, sinto a falha no pensar e me esquivo de olhar. Ele passa por mim, como um menino que acaba de descobrir que o sol é o centro da galáxia. Fico submissa, e respondo de forma equivocada e doce. Ele sorri. Abre covinhas e nunca me senti tão mulher e feminina, dessas que deságuam ante o mais fino olhar. Era o dia. A tarde. Sem tédio. E eu não me esqueci da mudança brusca, que veio e foi. Foi com o piscar, com o livro aberto e a página virada. A palavra consultada e mesclada com o ar agora fresco. Admiro o vagar da lembrança e ele repousa ouvindo aquele passarinho, mas não sozinho, não junto ao lado, mas na querela do pensar. E eu nunca me senti tão boba e mulher, dessas que vêem além do que está e acredita no viés da possibilidade. Juro que o possível era pra ser mais bonito. E o impossível inundou a face e a retina se compadeceu. Vista tão sentimental não há de se ter tão breve, nem o bater errado e direito. Foi pouco. Foi breve. Foi imenso. Foi intenso. Julguei o instinto do sentir. Imóvel, os olhos viram. Ele. Ao lado. Imóvel, permaneci. Móvel, ele foi. Longo instante de penas e dúvidas. Revirei a dignidade e só encontrei o orgulho, misto de medo e querer. Assim, menina, mulher. Dessas que fazem uma fagocitose do sentimento. Deságua, eu junto. Ele, lá. Cá, fico a surrupiar a vontade. Inspiro. Estico o braço e encontro minha realidade. Nunca me senti tão poderosa e mulher. Dessas independentes que sujam as palmas na beleza do conhecimento e reviram o ser na queda do esperar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Profissão? - Professora!



Boa noite... Acabei de chegar e, inspirada pelas maravilhosas aulas, gostaria de compartilhar uma paixão que carrego comigo desde que vi as sombras das primeiras letras: a minha profissão - Professora!

Acho engraçado como algumas pessoas não consideram "dar aulas" como uma profissão. Lecionar sempre foi meu projeto de vida, desde sempre. Quando tinha cerca de cinco anos, meus pais me deram uma quadro-"verde". Dava aulas não somente pras bonecas, mas adorava chegar em casa e "ensinar" pros meus pais o que tinha aprendido na escolinha. Quando me perguntavam o que queria ser quando crescesse, prontamente respondia: professora! Quando a época do vestibular foi chegando e me perguntavam o que iria prestar e eu dizia "Letras", logo retrucavam: mas, você vai ser professora?
-Sim, serei professora.
-Isso não dá dinheiro.
-Dá, sim. Quando fazemos tudo com amor, ganhamos o necessário. Não precisa ser o mais.

Com dezesseis anos comecei a dar aulas de espanhol para crianças e idosos num projeto na Igreja. E assim adentrei no fantástico mundo do magistério. Hoje, não penso em ter nenhuma outra profissão. Toda vez que etsou prestes a entrar em sala, ainda tremo e sinto frio na barriga. É extremamente gratificante perceber a expectativa nos olhos assustados que pisam pela primeira vez no terreno da graduação. Nada me deixa mais extasiada que saber o quanto um aluno (apenas um) aprendeu algo comigo. Algo que carregará pelo resto da vida.

Ser professora é minha maior realização: me realizo nos meus alunos. Ser professor é mais do que uma profissào: é um mistério, uma satisfação. Infelizmente, hoje existem muitos professores que não exercem o magistério com amor. Claro que a situação educacional é difícil, precária e deixa a desejar. Mas ainda acredito que cada um pode fazer sua parte. Hoje me senti muito feliz, pois uma aluna me disse: "professora, graças a você, eu sei qual vai ser o meu futuro na pedagogia". Essa, com certeza, é uma alegria que não posso explicar. Um estado de alma que engloba muito mais do que a ausência da tristeza. É, de fato, meu maior motivo pra continuar nessa empreitada.

Minha profissão é minha salvação, pois não sou eu que somente ensina. A cada dia aprendo algo de novo, se não um conhecimento teórico, uma experiência de vida que me faz repensar e modificar toda a minha realidade.

Guimarães Rosa, sabiamente, disse: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende."


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Semiótica das Paixões

"A vida, essa busca de sentido." A. J. GREIMAS

Hoje resolvi falar sobre uma paixão que cultivo há cerca de cinco anos: a semiótica. Para os que já me conhecem, isso não é nenhuma novidade. Mas, para os mais desavisados, acredito ser interessante conhecer um pouco mais sobre essa teoria que vem ganhando espaço a cada dia.

Comecei o post com uma citação do Greimas. Ressalto que existem duas vertentes da semiótica: a semiótica peirceana, mais conhecida como semiótica da imagem (estudada, normalmente, nos cursos de marketing, propaganda, comunicação, etc.) e a semiótica greimasiana, mais voltada para o texto escrito (apesar de ambas poderem ser usadas tanto com o texto verbal quanto com o imagético, incluindo o gestual). Meu estudos se baseiam na semiótica greimasiana.

Não ficarei me detendo ao histórico das semióticas. Basta acrescentar que ambas partiram dos estudos de Saussure, mais conhecido como "pai" da Linguística Moderna, ao adentrar os caminhos do signo (podemos entender o signo, nesse sentido, como a palavra, o desenho, etc., de forma bem senso comum). Uma curiosidade: Greimas iniciou seus estudos semióticos através de uma receita de macarrão ao pesto (que, inclusive, fizemos).

Nesse sentido, a semiótica se trata de uma ciência que tem por objeto de investigação as significações produzidas por um texto (lembro que texto não é somente aquilo que está escrito, mas tudo aquilo que é dotado de signifcado num determinado contexto). Grosso modo, a semiótica busca entender como o que o texto faz para dizer o que diz. Quais os métodos, procedimentos utilizados pelo autor (conscientemente ou não) para produzir determinado significado. Greimas propõe um "percurso gerativo do sentido" para compreender como este se processa. Tal percurso compreende três níveis (os quais não me deterei): nível fundamental, no qual se encontram as oposições semânticas fundamentais; nível narrativo, no qual se tem o sujeito em busca de um objeto-valor (narratividade do texto) e o nível discursivo, que é a superfície do texto, seu plano de expressão, e no qual se encontram os temas e figuras que apontam para o nível semântico.

BENVENISTE (1976), um dos grandes estudiosos da teoria da enunciação, afirma: "é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito; porque só a linguagem fundamenta na realidade, na sua realidade que é a do ser, o conceito de 'ego'" (p. 286).

Nessa mesma linha, Husserl trata da fenomenologia como ciência que explicita o sentido que a realidade do mundo objetivo tem para todos por meio da experiência, sentido que a filosofia pode recuperar, mas que não pode jamais modificar. Para MUSSALIN (2007), "a fenomenologia responde primeiramente à necessidade de descrever e de compreender a experiência vivida da verdade sem cair no psicologismo e no relativismo que isso implica. A primeira forma que ela adquire é a de uma fenomenologia pura da vivência do pensamento e do conhecimento." (p. 414)

Assim, a fenomenologia trata da intersubjetividade, explorando, com Merleau-Ponty, a percepção, como um "inventário" do mundo percebido. Para este filósofo, ainda, em toda sensação há um Ego que é transcendental, sujeito da experiência (subjetividade), pensando o "estar no mundo".

Greimas, em seus estudos mais recentes, iniciou o que é chamado de "SEMIÓTICA DAS PAIXÕES". Antes de adentrar esse terreno encantador, resumo as palavras de MUSSALIM, para a narratividade de um texto (a partir da página 422): o enunciado (chamaremos aqui de frase) se dá entre um sujeito e um objeto. Assim, a semiótica reconhece duas classes de modalidades: o ser e o fazer, ou seja, o sujeito que é e o sujeito que faz, por isso existem o  destinador e o destinatário. Por isso, desenvolveu-se mais quatro modalidades que se associam a essas duas: o querer, o dever, o poder e o saber. Explico, de forma extremamente simplista: quero dirigir numa velocidade superior a 120km/h numa rodovia. "Sou" um sujeito e "faço" algo. Então, eu quero fazer, eu sei como fazer, eu posso fazer, mas não devo. Dessa forma, um sujeito pode ser aquele que vai realizar essa ação ou pode ser manipulado por um outro sujeito a realizar ou não tal ação. Nesse sentido, todos somos manipulados (intencionalemente ou não) o tempo todo, e isso porque a linguagem compreende a interação-levar o outro a ter uma ação. Quando cumprimento alguém, exerço uma manipulação sobre essa pessoa que a leva ou a corresponder ou a ignorar meu cumprimento. Esse percurso manipulativo compreende o nível narrativo acima citado.

A partir disso, um sujeito pode entrar em estado de junção ou disjunção com o objeto. Se eu correr a mais de 120km/h, entrarei em conjunção(euforia) com meu objeto, que, aqui, é o meu desejo. Caso alguém me manipule a não realizar tal ação, entrarei em disjunção (disforia) com meu desejo. É através desse estudo das modalidades que se chega à observação dos diferentes estados do sujeito, conforme distinguem os valores investidos nos objetos. Assim, tem O ESTADO DAS COISAS E O ESTADO DE ALMA (MUSSALIM, p. 424).

Assim, as paixões passam a ser entendidas como um efeito de sentido de qualificações modais que atuam sobre o sujeito. Retomando Merleau-Ponty, a paixão opõe-se à ação como duas formas de o ser se manifestar, e afirma que a sensação provem da relação do corpo com o mundo objetivo. DESCARTES, no séc. XVII já se ocupava do tema das paixões. Para ele, as paixões da alma são a manifestação do pensamento, um reflexo do cogito a partir do qual ele busca a asserção da verdade. A alma, de acordo com o filósofo, cuja essência é o pensamento, pode ser pensada sem extensão.

A semiótica, dessa forma, estuda as paixões buscando compreender seus sentidos. Citando FIORIN... "A paixão é entendida, inicialmente, pela Semiótica, como efeitos de sentido de
qualificações modais que alteram o sujeito de estado, o que significa que é vista como uma modalidade do ser ou um arranjo delas, sejam elas compatíveis ou incompatíveis (GREIMAS, 1983, p. 225-46). Por exemplo, a infelicidade define-se como um querer ser aliado a um saber não poder ser, enquanto o alívio reúne um querer ser a um saber não poder não ser (BARROS, 1989-1990, p. 63). O infeliz é aquele que continua a querer, apesar de saber da impossibilidade evidente da conjunção, enquanto o aliviado deseja apenas aquilo que sabe que é inevitável."



Não me alongarei mais, visto que se trata de um assunto complexo. Indico bibliografias abaixo, para quem tiver maior interesse em conhecer a Semiótica das Paixões. Cito, também, as referências utilizadas no texto.



Ressalto apenas, que, como já disse no post anterior, não trato da paixão no sentido comumente conhecido. É algo muito mais amplo, como a semiótica vem a ratificar diante do já-dito de filósofos (que, por sinal, tratam da relação sujeito-mundo). A semiótica não analisa a psiqué, mas busca entender a paixão como o que impele o homem à ação e o que o eleva às grandes coisas.



Talvez eu poste, amanhã, uma poesia, já que TODO E QUALQUER TEXTO é passional.



Desculpem-me pelo texto extenso.







1. Referências bibliográficas


BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. São Paulo: EDUSP, 1976.



FIORIN, J. L. As astúcias da enunciação. São Paulo: Ática, 1996.



GREIMAS, A. J. Semântica Estrural. São Paulo: Cultrix, 1973.



MUSSALIM, F. B. Introdução à Linguística. Vol. 3. São Paulo: Cortez, 2007.





2. Bibliografia indicada






GREIMAS, A. J. & FONTANILLE, J. Semiótica das paixões. Dos estados de coisas aos estados de almas. São Paulo: Ática, 1993.



BARROS, D. L. P. Teoria do discurso. Fundamentos semióticos. São Paulo: Atual, 1988.





*ps.: pena não se poder agradar a gregos e troianos. A utilidade de algo é relativa e subjetiva. Quem tiver interesse na semiótica e quiser mais materiais, é só me pedir.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Paixões


Semioticamente, paixão quer dizer "os estados de alma do sujeito", ou seja, a "forma, o jeito" que a alma do ser humano se debruça diante de determinados fatos. As paixões podem ser caracterizadas, ainda semioticamente, num quadro de oposições. Explico: pensemos num estado de alma... Calma! A calma representa a não-agitação. Sendo assim, calma <-> não-agitação. Agitação <-> não-calma. Qualquer paixão é a ausência de determinado de estado. Esquematicamente, podemos ter (no quadrado semiótico estipulado por Greimas):

Calma    <-->    Agitação


Não-calma     <-->   Nào-agitação

Em que calma se conecta diagonalmente a não-agitação e não-calma a agitação.

Mas, como a semiótica pode ser complexa demais para entender algo ainda mais complexo, as emoções humanas, retenho-me a dizer que a paixão, esse estado de alma do sujeito, modifica o homem. Este, ser passional, modifica a si mesmo, ao outro e ao mundo que o cerca. Dessa forma, o que move o mundo são as paixões.

Cronicamente Passional tratará das paixões que mediam o cotidiano do ser humano, representados por paixões não somente vinculadas a mim, mas a tudo e todos que estão ao meu redor. Tentarei mostrar que paixão não deve ser vista somente no contexto tradicional, sexualmente falando, mas como afirmado acima: estados de alma do sujeito. Esses estados variam instantaneamente, baseados em diversos fatos. Por isso a paixão é incontínua, desestrutura, molda, reverte...

Vamos compartilhar nossas paixões... Qual é o seu estado de alma nesse momento?