sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Profissão? - Professora!



Boa noite... Acabei de chegar e, inspirada pelas maravilhosas aulas, gostaria de compartilhar uma paixão que carrego comigo desde que vi as sombras das primeiras letras: a minha profissão - Professora!

Acho engraçado como algumas pessoas não consideram "dar aulas" como uma profissão. Lecionar sempre foi meu projeto de vida, desde sempre. Quando tinha cerca de cinco anos, meus pais me deram uma quadro-"verde". Dava aulas não somente pras bonecas, mas adorava chegar em casa e "ensinar" pros meus pais o que tinha aprendido na escolinha. Quando me perguntavam o que queria ser quando crescesse, prontamente respondia: professora! Quando a época do vestibular foi chegando e me perguntavam o que iria prestar e eu dizia "Letras", logo retrucavam: mas, você vai ser professora?
-Sim, serei professora.
-Isso não dá dinheiro.
-Dá, sim. Quando fazemos tudo com amor, ganhamos o necessário. Não precisa ser o mais.

Com dezesseis anos comecei a dar aulas de espanhol para crianças e idosos num projeto na Igreja. E assim adentrei no fantástico mundo do magistério. Hoje, não penso em ter nenhuma outra profissão. Toda vez que etsou prestes a entrar em sala, ainda tremo e sinto frio na barriga. É extremamente gratificante perceber a expectativa nos olhos assustados que pisam pela primeira vez no terreno da graduação. Nada me deixa mais extasiada que saber o quanto um aluno (apenas um) aprendeu algo comigo. Algo que carregará pelo resto da vida.

Ser professora é minha maior realização: me realizo nos meus alunos. Ser professor é mais do que uma profissào: é um mistério, uma satisfação. Infelizmente, hoje existem muitos professores que não exercem o magistério com amor. Claro que a situação educacional é difícil, precária e deixa a desejar. Mas ainda acredito que cada um pode fazer sua parte. Hoje me senti muito feliz, pois uma aluna me disse: "professora, graças a você, eu sei qual vai ser o meu futuro na pedagogia". Essa, com certeza, é uma alegria que não posso explicar. Um estado de alma que engloba muito mais do que a ausência da tristeza. É, de fato, meu maior motivo pra continuar nessa empreitada.

Minha profissão é minha salvação, pois não sou eu que somente ensina. A cada dia aprendo algo de novo, se não um conhecimento teórico, uma experiência de vida que me faz repensar e modificar toda a minha realidade.

Guimarães Rosa, sabiamente, disse: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende."


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Semiótica das Paixões

"A vida, essa busca de sentido." A. J. GREIMAS

Hoje resolvi falar sobre uma paixão que cultivo há cerca de cinco anos: a semiótica. Para os que já me conhecem, isso não é nenhuma novidade. Mas, para os mais desavisados, acredito ser interessante conhecer um pouco mais sobre essa teoria que vem ganhando espaço a cada dia.

Comecei o post com uma citação do Greimas. Ressalto que existem duas vertentes da semiótica: a semiótica peirceana, mais conhecida como semiótica da imagem (estudada, normalmente, nos cursos de marketing, propaganda, comunicação, etc.) e a semiótica greimasiana, mais voltada para o texto escrito (apesar de ambas poderem ser usadas tanto com o texto verbal quanto com o imagético, incluindo o gestual). Meu estudos se baseiam na semiótica greimasiana.

Não ficarei me detendo ao histórico das semióticas. Basta acrescentar que ambas partiram dos estudos de Saussure, mais conhecido como "pai" da Linguística Moderna, ao adentrar os caminhos do signo (podemos entender o signo, nesse sentido, como a palavra, o desenho, etc., de forma bem senso comum). Uma curiosidade: Greimas iniciou seus estudos semióticos através de uma receita de macarrão ao pesto (que, inclusive, fizemos).

Nesse sentido, a semiótica se trata de uma ciência que tem por objeto de investigação as significações produzidas por um texto (lembro que texto não é somente aquilo que está escrito, mas tudo aquilo que é dotado de signifcado num determinado contexto). Grosso modo, a semiótica busca entender como o que o texto faz para dizer o que diz. Quais os métodos, procedimentos utilizados pelo autor (conscientemente ou não) para produzir determinado significado. Greimas propõe um "percurso gerativo do sentido" para compreender como este se processa. Tal percurso compreende três níveis (os quais não me deterei): nível fundamental, no qual se encontram as oposições semânticas fundamentais; nível narrativo, no qual se tem o sujeito em busca de um objeto-valor (narratividade do texto) e o nível discursivo, que é a superfície do texto, seu plano de expressão, e no qual se encontram os temas e figuras que apontam para o nível semântico.

BENVENISTE (1976), um dos grandes estudiosos da teoria da enunciação, afirma: "é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito; porque só a linguagem fundamenta na realidade, na sua realidade que é a do ser, o conceito de 'ego'" (p. 286).

Nessa mesma linha, Husserl trata da fenomenologia como ciência que explicita o sentido que a realidade do mundo objetivo tem para todos por meio da experiência, sentido que a filosofia pode recuperar, mas que não pode jamais modificar. Para MUSSALIN (2007), "a fenomenologia responde primeiramente à necessidade de descrever e de compreender a experiência vivida da verdade sem cair no psicologismo e no relativismo que isso implica. A primeira forma que ela adquire é a de uma fenomenologia pura da vivência do pensamento e do conhecimento." (p. 414)

Assim, a fenomenologia trata da intersubjetividade, explorando, com Merleau-Ponty, a percepção, como um "inventário" do mundo percebido. Para este filósofo, ainda, em toda sensação há um Ego que é transcendental, sujeito da experiência (subjetividade), pensando o "estar no mundo".

Greimas, em seus estudos mais recentes, iniciou o que é chamado de "SEMIÓTICA DAS PAIXÕES". Antes de adentrar esse terreno encantador, resumo as palavras de MUSSALIM, para a narratividade de um texto (a partir da página 422): o enunciado (chamaremos aqui de frase) se dá entre um sujeito e um objeto. Assim, a semiótica reconhece duas classes de modalidades: o ser e o fazer, ou seja, o sujeito que é e o sujeito que faz, por isso existem o  destinador e o destinatário. Por isso, desenvolveu-se mais quatro modalidades que se associam a essas duas: o querer, o dever, o poder e o saber. Explico, de forma extremamente simplista: quero dirigir numa velocidade superior a 120km/h numa rodovia. "Sou" um sujeito e "faço" algo. Então, eu quero fazer, eu sei como fazer, eu posso fazer, mas não devo. Dessa forma, um sujeito pode ser aquele que vai realizar essa ação ou pode ser manipulado por um outro sujeito a realizar ou não tal ação. Nesse sentido, todos somos manipulados (intencionalemente ou não) o tempo todo, e isso porque a linguagem compreende a interação-levar o outro a ter uma ação. Quando cumprimento alguém, exerço uma manipulação sobre essa pessoa que a leva ou a corresponder ou a ignorar meu cumprimento. Esse percurso manipulativo compreende o nível narrativo acima citado.

A partir disso, um sujeito pode entrar em estado de junção ou disjunção com o objeto. Se eu correr a mais de 120km/h, entrarei em conjunção(euforia) com meu objeto, que, aqui, é o meu desejo. Caso alguém me manipule a não realizar tal ação, entrarei em disjunção (disforia) com meu desejo. É através desse estudo das modalidades que se chega à observação dos diferentes estados do sujeito, conforme distinguem os valores investidos nos objetos. Assim, tem O ESTADO DAS COISAS E O ESTADO DE ALMA (MUSSALIM, p. 424).

Assim, as paixões passam a ser entendidas como um efeito de sentido de qualificações modais que atuam sobre o sujeito. Retomando Merleau-Ponty, a paixão opõe-se à ação como duas formas de o ser se manifestar, e afirma que a sensação provem da relação do corpo com o mundo objetivo. DESCARTES, no séc. XVII já se ocupava do tema das paixões. Para ele, as paixões da alma são a manifestação do pensamento, um reflexo do cogito a partir do qual ele busca a asserção da verdade. A alma, de acordo com o filósofo, cuja essência é o pensamento, pode ser pensada sem extensão.

A semiótica, dessa forma, estuda as paixões buscando compreender seus sentidos. Citando FIORIN... "A paixão é entendida, inicialmente, pela Semiótica, como efeitos de sentido de
qualificações modais que alteram o sujeito de estado, o que significa que é vista como uma modalidade do ser ou um arranjo delas, sejam elas compatíveis ou incompatíveis (GREIMAS, 1983, p. 225-46). Por exemplo, a infelicidade define-se como um querer ser aliado a um saber não poder ser, enquanto o alívio reúne um querer ser a um saber não poder não ser (BARROS, 1989-1990, p. 63). O infeliz é aquele que continua a querer, apesar de saber da impossibilidade evidente da conjunção, enquanto o aliviado deseja apenas aquilo que sabe que é inevitável."



Não me alongarei mais, visto que se trata de um assunto complexo. Indico bibliografias abaixo, para quem tiver maior interesse em conhecer a Semiótica das Paixões. Cito, também, as referências utilizadas no texto.



Ressalto apenas, que, como já disse no post anterior, não trato da paixão no sentido comumente conhecido. É algo muito mais amplo, como a semiótica vem a ratificar diante do já-dito de filósofos (que, por sinal, tratam da relação sujeito-mundo). A semiótica não analisa a psiqué, mas busca entender a paixão como o que impele o homem à ação e o que o eleva às grandes coisas.



Talvez eu poste, amanhã, uma poesia, já que TODO E QUALQUER TEXTO é passional.



Desculpem-me pelo texto extenso.







1. Referências bibliográficas


BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. São Paulo: EDUSP, 1976.



FIORIN, J. L. As astúcias da enunciação. São Paulo: Ática, 1996.



GREIMAS, A. J. Semântica Estrural. São Paulo: Cultrix, 1973.



MUSSALIM, F. B. Introdução à Linguística. Vol. 3. São Paulo: Cortez, 2007.





2. Bibliografia indicada






GREIMAS, A. J. & FONTANILLE, J. Semiótica das paixões. Dos estados de coisas aos estados de almas. São Paulo: Ática, 1993.



BARROS, D. L. P. Teoria do discurso. Fundamentos semióticos. São Paulo: Atual, 1988.





*ps.: pena não se poder agradar a gregos e troianos. A utilidade de algo é relativa e subjetiva. Quem tiver interesse na semiótica e quiser mais materiais, é só me pedir.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Paixões


Semioticamente, paixão quer dizer "os estados de alma do sujeito", ou seja, a "forma, o jeito" que a alma do ser humano se debruça diante de determinados fatos. As paixões podem ser caracterizadas, ainda semioticamente, num quadro de oposições. Explico: pensemos num estado de alma... Calma! A calma representa a não-agitação. Sendo assim, calma <-> não-agitação. Agitação <-> não-calma. Qualquer paixão é a ausência de determinado de estado. Esquematicamente, podemos ter (no quadrado semiótico estipulado por Greimas):

Calma    <-->    Agitação


Não-calma     <-->   Nào-agitação

Em que calma se conecta diagonalmente a não-agitação e não-calma a agitação.

Mas, como a semiótica pode ser complexa demais para entender algo ainda mais complexo, as emoções humanas, retenho-me a dizer que a paixão, esse estado de alma do sujeito, modifica o homem. Este, ser passional, modifica a si mesmo, ao outro e ao mundo que o cerca. Dessa forma, o que move o mundo são as paixões.

Cronicamente Passional tratará das paixões que mediam o cotidiano do ser humano, representados por paixões não somente vinculadas a mim, mas a tudo e todos que estão ao meu redor. Tentarei mostrar que paixão não deve ser vista somente no contexto tradicional, sexualmente falando, mas como afirmado acima: estados de alma do sujeito. Esses estados variam instantaneamente, baseados em diversos fatos. Por isso a paixão é incontínua, desestrutura, molda, reverte...

Vamos compartilhar nossas paixões... Qual é o seu estado de alma nesse momento?