sábado, 4 de setembro de 2010

Nunca me senti tão mulher!

Uma crônica pra satisfazer as necessidades não-semióticas...


Era um dia. Uma tarde. Um tédio. E eu poderia esperar uma mudança repentina, dessas que vem e vão como vieram. Basta-me, no entanto, no momento, saber que sou única e mulher, dessas bem femininas, com recortes e colagens. Dessas que sonham grande e realizam de pequeno. Pensando, ansiando pelo que virá depois. O tempo recua à minha passagem. Pois nem toda forma de envelhecimento me entristece. Posso ser tranqüila e pensar que o dia vai seguir e subtrair do que já foi, quem sabe somar ao que está sendo. Só sei que o sol vai alto e minha cabeça, ainda mais. Vi um passarinho, tão bonitinho, cantando no embalo do vento, esperando pela água que se acumula e logo, logo pode soar derradeira. Sou eu. Mulher. Invencível. Dessas que saem de casa aspirando vontade e expirando desejo. Já, já ele vai entrar e toda minha idéia de ser maior do que acredito ser se corrompe. Misturo as falas, sinto a falha no pensar e me esquivo de olhar. Ele passa por mim, como um menino que acaba de descobrir que o sol é o centro da galáxia. Fico submissa, e respondo de forma equivocada e doce. Ele sorri. Abre covinhas e nunca me senti tão mulher e feminina, dessas que deságuam ante o mais fino olhar. Era o dia. A tarde. Sem tédio. E eu não me esqueci da mudança brusca, que veio e foi. Foi com o piscar, com o livro aberto e a página virada. A palavra consultada e mesclada com o ar agora fresco. Admiro o vagar da lembrança e ele repousa ouvindo aquele passarinho, mas não sozinho, não junto ao lado, mas na querela do pensar. E eu nunca me senti tão boba e mulher, dessas que vêem além do que está e acredita no viés da possibilidade. Juro que o possível era pra ser mais bonito. E o impossível inundou a face e a retina se compadeceu. Vista tão sentimental não há de se ter tão breve, nem o bater errado e direito. Foi pouco. Foi breve. Foi imenso. Foi intenso. Julguei o instinto do sentir. Imóvel, os olhos viram. Ele. Ao lado. Imóvel, permaneci. Móvel, ele foi. Longo instante de penas e dúvidas. Revirei a dignidade e só encontrei o orgulho, misto de medo e querer. Assim, menina, mulher. Dessas que fazem uma fagocitose do sentimento. Deságua, eu junto. Ele, lá. Cá, fico a surrupiar a vontade. Inspiro. Estico o braço e encontro minha realidade. Nunca me senti tão poderosa e mulher. Dessas independentes que sujam as palmas na beleza do conhecimento e reviram o ser na queda do esperar.

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